O nome do réptil remete à África porque a criatura tem características comuns aos parentes africanos. O que remete à ligação dos continentes Americano e Africano durante o período anterior, o Triássico. O quilombensis do nome vem do fato de que a área onde os fósseis foram achados abriga uma comunidade quilombola. O solo da região é famoso por ser um berço de espinossauros, espécies de focinhos alongados, semelhantes aos dos jacarés. Mas esses monstros são difíceis de ser pesquisadas. Por isso Kellner não se preocupa em dizer que eles tiveram sorte no achado. “Os espinossauros são espécies que costumam ter ossos muito fragmentados”, explica. Por isso a descoberta é um acontecimento mundial. Mesmo que tenham achado somente um pedaço do maxilar e do focinho, eles têm certeza de que se trata de uma nova espécie. O pesquisador afirma que ainda há muito a ser descoberto, por isso não é possível montar um esqueleto inteiro para uma exposição. Ele aponta o fato das marés violentas da ilha do Cajual tornarem o trabalho de achar mais ossos “impossível”. “Para reconstruir um esqueleto temos que ter 40% a 50% de ossos”, explica. Mas Alexandre não trouxe só o Oxalaia na bagagem. Foram mais de 500 quilos de fósseis, que resultaram em quatro estudos que serviram de vitrine para o novo volume dos anais da Academia de Ciência. Foram mais de 20 trabalhos inéditos, inclusive de pesquisadores estrangeiros. “Isso mostra que pesquisadores começaram a procurar revistas científicas brasileiras para divulgar seus trabalhos”, conta. ATRAÇÃO – Recentemente o Museu Nacional no Rio de Janeiro exibiu pela primeira vez ossos de tiranossauro e uma réplica em tamanho real, um pedido constante dos visitantes. Por isso, a coordenadora de exposições do museu de geociências da UnB, Maria Chelin, acredita que a descoberta de um grande carnívoro pode chamar atenção para a paleontologia. “São bichos carismáticos”, diz. Ela afirma que muitas vezes a proposta de expor um material desses é desvendar outros aspectos da ciência e até atrair pessoas para a profissão. “Sem querer acaba sensibilizando pessoas para o campo”, acredita. Mesmo após a descoberta, Alexandre diz ter uma visão “otimista, mas crítica” da paleontologia brasileira. Para o pesquisador, a situação de nossos museus é ridícula se comparada à China, EUA e mesmo à Argentina. Dados do estudo “Museus em Números”, o primeiro do tipo no Brasil, mostram que o País tem cerca de 3 mil museus, mas concentrados em somente 21,1% dos municípios. Em 2009, R$ 120 milhões foram repassados ao setor, sendo que, segundo o Instituto Brasileiro de Museus, seriam necessários R$ 200 milhões anuais para chegar a patamares mundiais nos próximos anos. Não é à toa que Alexandre Kellner cita como o grande marco da paleontologia no Brasil uma simples exposição em 1999, chamada “No tempo dos dinossauros”. A mostra atraiu mais de 200 mil pessoas ao Museu Nacional em 1999. O pesquisador acredita que este foi o ponto de virada para a pesquisa paleontológico no Brasil e cita números: até aquele ano eram quatro dinossauros descobertos. Hoje já são 20. “A mídia e o público descobriram que o País tinha paleontólogos a partir disso”. Para Ricardo Lourenço, professor do Instituto de Geociências da UnB, a paleontologia está em crescimento na Brasil. O investimento do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) com o edital de fortalecimento da paleontologia foi um importante impulso para as pesquisas nacionais. “Com frequência as agências de fomento analisam projetos em paleontologia, mas esse edital contemplou pesquisadores de todo o território brasileiro. Foi um importante incentivo inclusive em número de pesquisas”, avalia o pesquisador. Ele participa de três projetos que fazem parte desse edital, com investimentos que chegam a R$ 250 mil. Dois são para catalogar algumas espécies de crustáceos, que ajudam na identificação das idades das rochas. Outro projeto é sobre a conservação do acervo fóssil do Museu de Geociências. Ricardo afirma que a Petrobrás dá uma importante contribuição à Paleontologia. “As rochas ajudam a identificar momentos específicos da história e avisam, por exemplo, o limite de uma perfuração”, explica. UnB Agência |
Em meados do ano 2000, o pesquisador Alexandre Kellner viajou com uma pequena trupe de cientistas do Museu Nacional da UFRJ para o litoral do Maranhão. A área da ilha do Cajual já era um importante sítio arqueológico, mas eles não esperavam descobrir o que já é chamado de tiranossauro brasileiro: o Oxalaia quilombensis, que media de 12 a 14 metros e pesava algumas toneladas, é o mais novo gigante carnívoro do rol de espécies do período Cretáceo.
Em latim, o seu nome científico quer dizer Titã de Angola, a que se juntou o apelido Adamastor, numa referência à figura mitológica de Os Lusíadas, que representava os perigos que os portugueses enfrentaram nas viagens de descoberta pela costa africana. O Angolatitan adamastor, o primeiro dinossauro encontrado em Angola, e até agora único, é hoje descrito numa revista científica brasileira como sendo de um género e uma espécie novos para a ciência.
Tinha 13 metros de comprimento e era um herbívoro quadrúpede, ou saurópode, como dizem os paleontólogos. Viveu há 90 milhões de anos, no Cretácico Superior, quando Angola era bastante diferente de hoje. África e a América do Sul já se tinham separado e entre as duas estava a nascer o Atlântico Sul, embora pouco desenvolvido. A Antárctida encontrava-se ainda colada ao continente africano.
A 25 de Maio de 2005, o paleontólogo Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã e do Centro de Estudos Geológicos da Universidade Nova de Lisboa, andava sozinho em prospecção de fósseis pelas arribas do Ambriz, na província de Bengo, 70 quilómetros a norte de Luanda. E foi assim que localizou ossos do dinossauro - embora estivesse em Angola numa expedição com o norte-americano Louis Jacobs, paleontólogo da Universidade Metodista do Sul, no Texas. Era o início do Projecto PaleoAngola, que pretende descobrir, estudar e mostrar fósseis de vertebrados, envolvendo cientistas portugueses, angolanos, norte-americanos, entre outros.
Naquela expedição, Octávio Mateus e Louis Jacobs visitavam locais identificados com fósseis, nos anos 60, pelo paleontólogo Miguel Telles Antunes. A guerra naquela antiga colónia portuguesa interrompeu os seus trabalhos e depois os geólogos angolanos centraram as atenções nos diamantes e no petróleo. Ainda no mês da descoberta, e depois no ano seguinte, a equipa retirou das arribas vários ossos do dinossauro, todos de uma pata dianteira. Parte encontra-se agora na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e outra parte no Museu da Lourinhã, até que seja feito um molde.
Hoje, a equipa, que inclui Telles Antunes, da Academia de Ciências de Lisboa, além de cientistas angolanos, entre outros, publica a descrição do animal na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Há 90 milhões de anos, a região angolana onde se encontrou o dinossauro era árida. Apesar disso, o Angolatitan adamastor adaptou-se a essas condições, tal como acontece actualmente com os elefantes.
Do ponto de vista evolutivo, era já uma relíquia, explica Octávio Mateus. "Era relativamente primitivo." Encontrava-se num ramo tão baixo da árvore evolutiva dos dinossauros que era o único representante desse ramo no Cretácico Superior. "Isto mostra que, de alguma forma, África serviu como refúgio a este grupo de dinossauros."